A forma como as cores são aplicadas no espaço expositivo podem alterar completamente a percepção da visita, a interpretação do tema, o conforto do visitante ou ainda o percurso escolhido. Uma exposição em que as cores são projetadas de forma criteriosa pode atrair os visitantes e encantá-los com o conteúdo. Por outro lado, subestimar a importância da cor e relegar seu estudo a uma ou outra parede, pode gerar repulsa ou desinteresse.
Por isso, quando desenvolvo um projeto de design para exposições sempre tenho em mente esses 10 pontos como fundamentais:
1. Cor é informação
As cores são um importantíssimo elemento de comunicação com o público. Elas devem portanto, ter relação com o tema exposto e não devem ser escolhidas aleatoriamente de acordo com o critério de preferência (gosto ou não gosto) dos criadores da exposição.
Acreditar que o seu gosto é universal é tapar o sol com a peneira. Por outro lado, escolher as cores de forma criteriosa e relacionar com o tema, agrega valor ao conteúdo e faz com que a narrativa seja mais coerente.
O primeiro passo para fazer uma escolha criteriosa é recorrer à psicologia das cores. Esse estudo é essencial para começar a criar relações entre o conteúdo e a forma da exposição.
2. Design com significado
Após entender o significado de cada cor, determinar a mensagem que se quer passar em cada sala da exposição e qual a cor mais adequada para isso, deve ser desenvolvida uma paleta de cores com uma harmonia cromática a ser considerada em cada sala para que ela faça sentido em relação à proposta curatorial.
A paleta pode ser criada para para a exposição inteira ou para cada sala, dependendo da abrangência do tema e do tamanho do espaço expositivo. De qualquer forma, são selecionadas as cores principais que vinculam o tema à psicologia das cores e, na sequência, precisamos das cores secundárias, que devem ser mais neutras e auxiliar na construção das salas. Nesse sentido, é sempre importante lembrar do jogo de retenções proposto por Jean Davallon em que o visitante precisa alternar momentos de contração e expansão. As cores neutras nos auxiliam nessa transição, dando um respiro para o visitante absorver tantas informações (escritas e visuais).
3. A cor como gerador de foco
Dois elementos principais são geradores de atração para determinados elementos de cada sala expositiva: a cor e a iluminação (veja os diversos artigos sobre iluminação no nosso blog Critica Expográfica).
A cor é capaz de criar pontos focais em que sala, direcionando o visitante para aquilo que tem mais destaque ou que o visitante não pode deixar de ver.
4. Equilíbrio e contraste
Tanto a harmonia quanto os contrastes de cor devem ser usados de forma a dialogar com os objetos expostos, destacando-os ou dando menor importância, de acordo com o desejo da curadoria.
As cores auxiliam o desenvolvimento da narrativa expositiva de acordo com o percurso planejado em conjunto com a equipe curatorial.
5. Harmonia com materiais e texturas
Os materiais utilizados em uma sala de exposição – vidro, madeira, metais, acabamento das paredes, entre outros – também transmitem informações e se comunicam com o público. Eles possuem a cor e uma informação adicional: textura, transparência, opacidade, brilho, etc.
Ignorar a informação e construir a sala como se fosse um ambiente neutro e sem a influência das texturas e materiais existentes adiciona conflito e ruído na exposição e portanto, na comunicação com o público.
Podemos ter a sensação enganosa de que definir a cor de uma sala é apenas escolher a tonalidade das paredes de acordo com a paleta definida. Porém a cor está presente em todos os elementos da sala.
Sendo assim, definir uma paleta de cores coerentes com a proposta curatorial não se resume apenas a escolher a cor das paredes. A paleta deve ser aplicada também considerando a cor, textura e opacidade dos objetos, dispositivos, fotos, mídias, displays, cor da iluminação, etc. E, claro, também as paredes com textos de aberturas, textos explicativos, paredes que servem de suportes para objetos e legendas.
6. As telas e mídias digitais
Novamente pensando nos conceitos de harmonia e destaque dos pontos focais, as telas e dispositivos interativos não devem brigar com as cores das exposições. A atração da luz e da imagem em movimento é inegável. Imaginar que uma parede colorida ou um display com objetos cujo destaque cromático é importante se destacará mais que a luz proveniente da tela ou das imagens em movimento é ignorar o poder dessas mídias.
Veja o caso do Museu do Futebol, em que a Camiseta do Pelé, único e importante patrimônio material do vasto acervo imaterial: a camiseta é posicionada entre uma sala com dezenas de telas (Sala das Copas) e um dispositivo com vídeos de Pelé e Garrincha com textos em verde rodando (haja estímulo!). Não há nada que consiga se destacar mais do que isso, nem um objeto, nem uma cor. Nesse caso seria mais adequado criar um ambiente apenas para expor o objeto de destaque, sem influência de tantos estímulos.
7. A cor muda as dimensões dos espaços
Com o poder incrível de aumentar ou diminuir espaços, a cor gera ainda outras sensações: pode-se criar um ambiente extremamente amplo e prazeroso ou também angustiante, sufocante e desesperador. Uma sala já existente, com tamanho pré definido, pode transmitir diversas sensações só quando alteramos a sua paleta de cores.
No caso de uma sala nova, com dimensões criadas a partir do zero, a cor pode ampliar a percepção do conceito que a curadoria deseja passar. Veja o caso dessa sala do Museu do Holocausto: a composição de fotos antigas, quando em conjunto, formam uma tonalidade acinzentada e transformam o ambiente em algo bastante sombrio e sufocante. O formato da sala, aliado a luz zenital tem a sensação de morte ampliada pela tonalidade cinza que toma conta das paredes cobertas de fotos.
Como você pode ver na psicologia das cores, o cinza pode ser associado à perda, depressão, isolamento e solidão. A intenção dos curadores e criadores da exposição então se materializa neste espaço, valorizado pela tonalidade que ele adquire.
8. O espaço branco não é neutro
Em 1939 surgiu o conceito de “Cubo Branco” na Inauguração do novo prédio do MoMA em Nova York. Segundo Brian O´Doherty, em seu livro “No interior do cubo branco: a ideologia do Espaço da Arte”:
“A galeria ideal subtrai da obra de arte todos os indícios que interfiram no fato de que ela é ‘arte’. A obra isolada de tudo o que possa prejudicar sua apreciação de si mesma. Isso dá ao recinto uma presença característica de outros espaços onde as convenções são preservadas pela repetição de um sistema fechado de valores”
Porém, esse pretenso espaço ideal para exibição de obras de arte se mostrou ao longo do tempo como uma utopia, seja porque as obras de arte se modificaram (se descolando da parede e adquirindo novos formatos), seja porque a pretensa neutralidade era utópica, ou ainda porque os museus se abriram e perceberam que deveriam ser acessíveis a um público não especializado.
De qualquer forma, uma obra de arte, mesmo colocada em uma moldura supostamente neutra, tem outros elementos, materiais e texturas. E a observação acética da obra de arte não foi efetiva neste universo sem cor que pretendia ser neutro pelo uso da cor branca.
Portanto, a cor branca, por ser neutra, não torna um ambiente neutro, dado que a espacialidade, as texturas da parede e qualquer outra informação de cor (seja da moldura ou das próprias obras existentes) tornam essa neutralidade absoluta em um conceito meramente utópico.
9. Legibilidade: contrastes nos textos
Um dos itens mais importantes a se considerar na construção de uma exposição é o contraste entre os textos escritos e o fundo. A legibilidade da exposição é completamente alterada se não é possível ler um texto expositivo graças ao baixo contraste.
Pode parecer óbvio, mas é um erro bastante comum em exposições. A tela do computador muitas vezes engana designer inexperientes que não sabem como fazer os testes adequados para aferir a legibilidade dos textos em fundos coloridos. Veja nesta crítica do Museu de Congonhas, em Minas gerais, como a legibilidade pode ser alterada pelo baixo contraste.
Essa dificuldade de leitura, gerada pelo baixo contraste entre a cor do texto e a cor do fundo pode fazer com que o visitante desista da exposição pelo cansaço.
10. Criando um percurso expositivo através da cor
Se no item 3 você viu como em cada sala a cor pode criar pontos focais e atrair a atenção do visitante para um determinado objeto ou texto que é hierarquicamente mais importante naquele contexto, é importante saber que a cor também pode ser um elemento direcionador do percurso expositivo. E não se trata de estabelecer setas coloridas no chão que mudam a cada sala!
É algo muito mais sutil: uma parede ou um objeto em destaque, pode simplesmente “chamar” o visitante de uma sala para outra, desde que o percurso e o fluxo da exposição sejam estudados de maneira que a pessoa esteja no ponto correto para ser atraída para o próximo ponto .focal e assim, naturalmente siga de uma sala para a outra.
No exemplo abaixo, você pode ver como o visitante é atraído para uma sala em uma exposição com percurso definido. Mas imagine este mesmo efeito em uma exposição mais aberta, com percurso livre. Como você conduziria o visitante, sem ter que sinalizar: vá por aqui! Existem alguns recursos possíveis e um dos mais importantes é o uso da cor de maneira adequada.
Portanto, no seu próximo projeto expositivo, não ignore o estudo minucioso de um item tão importante, que agrega conteúdo e sentido ao projeto expográfico.
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